Por Olhos do Sertão
Vivemos um tempo em que as placas tectônicas da geopolítica mundial
estão em movimento. E, como bem lembram o cientista político argentino Ezequiel
Bistoletti e o pesquisador Pascal Lottaz, os ventos que antes sopravam
unicamente de Washington agora enfrentam resistência.
Em uma conversa densa, mas reveladora, eles afirmam com todas as letras:
a hegemonia dos Estados Unidos está ruindo e o Sul Global começa a
traçar seu próprio caminho.
De Berlim a Buenos Aires, do canal Demoliendo Mitos de la Política ao
YouTube, a análise deles percorre o mundo com precisão cirúrgica: Argentina,
México, Brasil, Rússia, China... Cada país com sua trajetória, cada nação
buscando respirar fora do velho guarda-chuva norte-americano.
E aqui do sertão, o que essa conversa nos diz?
Diz que a força sem estratégia está com os dias contados. Os EUA,
acostumados a impor vontades pelo poderio militar e econômico, agora enfrentam
potências como Rússia e China, que agem com paciência, estratégia e diplomacia.
O que antes era uma estrada de mão única, agora virou um cruzamento perigoso e
promissor para quem ousa mudar o rumo.
O Brasil, especialmente após se posicionar nos BRICS e encarar os
desmandos de Washington, aparece como peça-chave nesse novo tabuleiro. Um país
continental, com riquezas e diversidade, que começa a compreender que não
precisa se curvar, que pode negociar de igual para igual — se tiver coragem,
clareza e projeto de nação.
O mais impressionante é que, em meio a essa reconfiguração global, a
desdolarização emerge como símbolo dessa transição. Vários países estão
deixando de usar o dólar em suas transações internacionais. É como se o mundo
dissesse:
“Podemos fazer diferente. Podemos fazer por nós mesmos.”
Reflexões dos Olhos do Sertão
Este cenário global nos convida a refletir:
Que lugar o povo do campo, o agricultor familiar, o jovem do interior
ocupa nesse novo mundo?
Que papel a educação, a soberania alimentar, a cultura popular podem ter
nesse processo?
A resposta talvez esteja em algo que o sertanejo conhece bem:
resiliência com sabedoria.
Saber esperar o tempo da colheita. Resistir às estiagens. Plantar mesmo quando
o céu parece fechado.
Porque o mundo está mudando e o sertão também está acordando
para seu papel nesse novo tempo.
O futuro não virá pronto de Washington nem de Pequim.
Mas pode brotar do chão onde pisamos, se formos capazes de pensar com os
pés na terra e os olhos abertos para o mundo.
Resumo da conversa entre Bistoletti e Lottaz
A seguir, destaco os principais pontos discutidos no vídeo
compartilhado, onde os pesquisadores analisam a transformação da ordem mundial
e o surgimento de uma nova multipolaridade, liderada em parte pelo Sul Global e
pelos BRICS:
Fim da Hegemonia Americana
Bistoletti argumenta que os EUA perderam sua capacidade de liderança
global racional e estratégica.
O império norte-americano já não oferece uma narrativa ou projeto
convincente para o mundo.
A política externa dos EUA hoje é baseada mais na força bruta do que em
diplomacia ou planejamento.
Emergência do Sul Global
América Latina, África e Ásia estão reorganizando suas prioridades
geopolíticas.
Países como Brasil, México, Argentina e Índia buscam alternativas que
não dependam dos EUA ou da Europa Ocidental.
O Sul Global deixa de ser apenas “campo de batalha” e se torna agente
ativo da nova ordem global.
Desdolarização
Um dos temas centrais da conversa é o processo de desdolarização.
Diversos países dos BRICS estão substituindo o dólar em transações
internacionais.
Essa mudança enfraquece o poder dos EUA de impor sanções.
China e Rússia lideram o movimento, com o Brasil sinalizando apoio.
O Brasil no Tabuleiro Geopolítico
Sob a liderança de Lula, o Brasil busca retomar uma política externa
soberana.
Sofre pressões dos EUA, especialmente dos setores alinhados à linha dura
trumpista.
Tenta manter relações com o Ocidente, sem abrir mão de fortalecer sua
posição nos BRICS.
EUA sem estratégia, Rússia e China com visão
Enquanto os EUA apostam em sanções, guerra e contenção, Rússia e China
atuam com pragmatismo e visão estratégica.
A China amplia sua influência por meio da diplomacia econômica,
investimentos e acordos comerciais, como a Nova Rota da Seda.
Conclusão
Os ventos da geopolítica estão mudando. E quem observa com atenção — até
mesmo aqui, dos Olhos do Sertão - pode perceber que um novo mundo está
nascendo.
Um mundo onde o centro do poder já não dita sozinho as regras.
Cabe a nós decidir: vamos ser espectadores ou protagonistas?
Talvez o futuro esteja menos em Washington ou Pequim, e mais no chão que
cultivamos, no saber que preservamos e na coragem de reinventar nossos próprios
caminhos.